Os três erros fatais numa reestruturação empresarial | Erro fatal número 1

Erros fatais

 Os três erros fatais numa reestruturação empresarial

Certa vez um jornalista perguntou a mim e aos meus sócios quais eram, de acordo com nossa experiência, os principais erros encontrados em processos de reestruturação de empresas. Citamos diversos erros comuns e, muitos deles, não são tão óbvios, tanto que são rotineiramente cometidos por empresários e até mesmo experientes reestruturadores.

No primeiro Turnarounders Bootcamp do Brasil, que ocorrerá em São Paulo nos dias 10 e 11 de novembro, abordaremos os 10 erros fatais numa reestruturação empresarial. Por ora, resolvi compartilhar três deles, aqui vai o erro número 1:

Insistir no sonho que não deu certo

Uma empresa é usualmente resultado de algum sonho original, ambicioso, revolucionário, transformador e visionário. Ao redor deste sonho, desta visão de futuro, normalmente liderada por um indivíduo (empreendedor), juntam-se pessoas que compartilham deste sonho e se empenham para torná-lo realidade. Quando o sonho é factível e a equipe é competente, ele sai do campo das ideias e se torna real. A empresa nasce, toma corpo, e, algumas vezes, prospera.

Ao longo do ciclo de vida destas empresas, tais sonhos originais vão se renovando. Cada aspiração concretizada abre espaço para novos desejos e objetivos.

Entretanto, não é incomum que os sonhos não se concretizem (ou, pelo menos, não da forma originalmente concebida) e cabe aos líderes da empresa decidirem a melhor hora para sua renovação, ou mudanças de rumo, muitas vezes levando a discussões acaloradas e a conclusões frustrantes, em longas reuniões de conselho, ou em reuniões entre acionistas e executivos.

A renovação dos sonhos na vida das empresas, assim como em nossas vidas privadas, é algo que deve ser encarado não com angustia ou ansiedade, mas sim com serenidade, maturidade e naturalidade. Abrir mão de um sonho que não está se provando exequível é uma decisão difícil e, as vezes, não intuitiva, mas tem que ser tomada. E quanto mais rápido, melhor, pois poupa energia, recursos financeiros, e psicológicos.

Como turnarounders, planejamos e executamos estratégias que contemplam o abandono de certos mitos, crenças e sonhos que se provaram inviáveis ou ineficazes (e que contribuíram se não no todo, em parte para a situação presente da empresa). Frequentemente nos pegamos em discussões intermináveis sobre causas e consequências com relação à desistência de um sonho almejado pela empresa, desistência esta já alinhada e apoiada por conselheiros e executivos, que, não raro, mudam de opinião (e voltam às discussões), prejudicando a velocidade na tomada de algumas decisões vitais para a empresa.

Em outros contextos, a empresa tem um sócio majoritário que sempre a conduziu a empresa como bem quis. Após muitos acertos, é difícil para este indivíduo admitir para si mesmo e para terceiros que determinado sonho é impraticável. O excesso de confiança e a independência de opinião lhe coloca numa situação propensa para o protelamento da tomada de decisões vitais.

Quando iniciamos um trabalho de reestruturação procuramos identificar quais os sonhos (metas, objetivos e aspirações) que não estão prosperando e precisamos dissuadir o empresário, o conselho, os acionistas ou os executivos que nos contrataram a fim de revisar e renovar tais sonhos. Sempre encontramos grande resistência nesta etapa de nosso trabalho, pois nem sempre é pautado pela racionalidade necessária.

Sonhos

Já tivemos que retrabalhar diversos sonhos, por exemplo:

  1. o sonho de criar um gigante nacional num determinado mercado extremamente regionalizado;
  2. o sonho de se manter relevante numa linha de produtos de um mercado velozmente minguante;
  3. o sonho de ter uma capilaridade única com pontos de venda dispensáveis num segmento que compra direto da fábrica;
  4. o sonho de manter a tradição industrial da origem da empresa num mercado invadido por importações mais baratas;
  5. o sonho de desenvolver a tecnologia ou produto inovador, ou de fechar aquele contrato que salvará a empresa de uma hora para a outra.

Aceitar que o sonho não deve mais ser sonhado é uma realidade muito dura para muitos empresários. E, sinceramente, acho que para todos nós, em nossas vidas empresariais e pessoais. Entretanto vemos inúmeros casos de fracassos empresariais que poderiam ter sido evitados, se o apego ao sonho impossível fosse menor.

Como turnarounder, seu sucesso depende tanto da sua capacidade de avaliação, explicação e convencimento sobre a necessidade de abandonar um sonho, quanto da sua capacidade de criar sonhos novos, factíveis e inspiradores. Afinal, numa empresa ou na vida individual não se cria movimento destruindo os sonhos, mas sim renovando-os.

Para se inscrever o Bootcamp, acesse: www.turnarounders.com

 

Autor:

Pedro Guizzo, CFA, PMP
Partner
IVIX Value Creation